Embora neguem veementemente, o racismo está mais operante do que nunca. Ao olharmos atentamente nas revistas e jornais, incluindo, casos ao nosso redor, podemos perceber o quanto ainda precisamos assumir, discutir para depois avançarmos nas ações sobre o racismo. Segundo, Lélia Gonzalez no seu artigo “Racismo e sexismo na cultura brasileira” o racismo é “sintoma da neurose da cultura brasileira”, ou seja, ela usa a psicanálise para compreender o racismo praticado no Brasil, o racismo à brasileira.
A instauração do racismo é evidente, de fato existe uma construção ideológica que beneficia tanto socialmente quanto economicamente pessoas brancas de todas as classes sociais, o famoso termo discutido e tão falado: privilégio branco ou privilégio racial, o que torna mais curioso nessa nossa patologia, é que pensamos que somos uma sociedade branca, com o esqueleto no armário, que é a nossa cultura e herança ancestral africana.
Tão verdade que nossa capa e entrevistada, Sarah Fonseca, empresária, apresentadora e influenciadora, (@sarahafonseca), no dia 08/03/2022 estava em companhia do seu marido, sua sogra, ambos brancos, sofreu um caso de racismo numa padaria do Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro, se valendo também da fala de Glória Maria na participação do programa Roda Viva: “nada blinda o preto do racismo”. O Artigo “O Negro e o racismo no Brasil: Ênfase nas consequências psicológicas” de Deusyene Cortes Pantoja, Enmilly Carvalho Rodrigues e Diego Saimon de Souza Abrantes, onde a patologia racismo foi analisada e descrito; Foi possível relacionar o fenômeno racismo, construção histórica do Brasil e as consequências psíquicas. Constatou-se, através dos registros históricos e estudos de saúde realizados em épocas distintas, que os negros que sofrem discriminação tornam-se suscetíveis psiquicamente a desenvolverem, mais comumente: ansiedade, ataques de pânico, baixa autoestima, depressão, comprometimento/crises de identidade e distorção do autoconceito.
Nesta equação as pessoas brancas tem um papel fundamental, afinal quem “criou” o racismo não foram as pessoas pretas, uma das possibilidades para como sociedade eliminarmos o racismo seria: assumir que somos uma sociedade racista, começar um processo interno de desconstrução, passando por leituras, escuta ativa e ações, não compactuar com nenhuma injustiça racial e revermos nosso vocabulário palavras que não condizem mais com nosso momento atual da sociedade. Você vem nessa? Por aqui, Cintia Felix (@cintiafaustinofelix) para VAM Magazine, leia a seguir:
VAM: Quem é Sarah Fonseca, para além da rede social? Como você se conecta com outras pessoas usando a rede social? Por incrível que pareça, sou muito tímida e reservada. Tive que aprender lidar com a timidez para trabalhar com o que trabalho hoje: empresária, influenciadora, apresentadora e modelo. Amo ficar sozinha e na minha paz. Amo ler livros, estudar e sempre fui a nerd da escola. Toda a exposição que tenho hoje é um orgulho e desafio, porque é meu lado oposto, mas que me traz muita alegria.
Nas redes sociais eu prezo muito pela sinceridade, compartilho uma parte de mim com as pessoas de forma que inspire e contribua de alguma forma. Eu amo motivar, passar uma energia boa e principalmente dizer para as pessoas que elas podem fazer tudo o que quiserem/sonharem. Tudo que aconteceu comigo na minha jornada foi porque desde pequena eu sempre sonhei alto demais e sempre acreditei que conseguiria chegar onde eu quisesse.
VAM: Você é uma mulher negra e empresária quais são os principais desafios que você enfrenta hoje, como empresária e atuando na internet? O desafio do tempo que levam para me levarem a sério. Sinto que gasto muita energia para mostrar o que sou porque as pessoas/marcas acabam chegando sem acreditar no que sou capaz. É aquele velho ditado: preto tem que fazer 10x mais para ser valorizado e se for valorizado.
VAM: Como ativista racial, como você enxerga sua luta e as marcas que desejam somar forças? Por todos os depoimentos que recebo diariamente, não só de amigos e família, mas principalmente de seguidores que são pessoas que não conheço ou tenho intimidade e mesmo assim se abrem comigo, eu tenho certeza que eu transformo vidas, eu impulsiono a coragem, eu faço várias pessoas acreditarem nelas mesmas e já fiz várias marcas repensarem atitudes. Eu sou a pessoa que milita no offline, que dá sugestão, que diz que não ta certo, que tenta transformar pensamentos e atitudes por onde passa.
VAM: Recentemente você sofreu um episódio de racismo numa padaria do Rio de Janeiro, como você vê o racismo no Brasil e fora dele? Como pessoas não pretas podem ser engajadas ativamente na luta pelo fim do racismo, seja ele qual for? Só consigo falar pelo Brasil e pelas experiências vividas aqui, o racismo aqui é gritante e acontece todo dia. Está impregnado em nós. Ao meu ver, não existe alguém dizer que é 100% não racista, a gente acaba fazendo ou falando algumas coisas – mesmo que pequenas – que são racismo sim. Precisamos aprender muito, muito mesmo. Já no exterior, fiz algumas viagens, mas não acho que tenho propriedade para dizer ou comparar o racismo daqui com o de outros países.
Pessoas não pretas precisam parar de ficar perguntando o que deve ou não fazer e estudar também, nós pretos não somos professores e já estamos cansados de ficar explicando todo dia a mesma coisa. Estamos exaustos. Leiam sobre o antirracismo. Assistam vídeo. Implementem medidas antirracistas nas empresas. Façam alguma coisa!
VAM: O ano de 2022 está começando e quais são as novidades que você pode compartilhar com nosso público? Esse parece o ano mais desafiador da minha vida. Estou um relacionamento com um alemão que terá seu visto apenas até esse ano, moramos juntos e precisamos entender como será daqui pra frente. Há possibilidades de idas e vindas ou de mudanças de país. No entanto, há um projeto novo chegando em breve e ao mesmo tempo minha vontade em estudar teatro e ser atriz. É um novo movimento, confuso e surpreso. Tenho certeza que vai render muitas conquistas e aprendizados. O legal de tudo isso é que eu nunca gostei de ficar na área de conforto, quanto mais mudança, mais crescimento. Estou animada para 2022.
VAM: Para encerrarmos deixe uma mensagem para outras mulheres negras, que desejam empreender e se inspiram em você? Digo e sempre repito nas minhas redes: nós podemos tudo. Nós vamos ocupar os espaços que quisermos. Precisamos estar juntas. Precisamos nos apoiar. Não podemos nos calar. É por isso que eu amo compartilhar conhecimento nas minhas redes, meu sonho é ver outras mulheres crescendo. E que esse crescimento seja para todas, sem diferença por conta de cor de pele, cabelo ou traços. Eu sonho com o dia em que não precisaremos mais falar sobre preta ou branca, porque nesse dia ideal, seremos todas iguais. Seremos todos iguais.
Fotos: @felipearcher
Entrevista: @cintiafaustinofelix
Editor chefe: @antonnio.italiano
Assessoria: @arielquirino
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