Na VAM Magazine, tive o privilégio de conversar com Pocah, uma artista que vive cada fase de sua vida e carreira com uma intensidade verdadeira, que transborda para suas músicas. Seu novo álbum, Cria de Caxias, é mais do que um disco – é um pedaço de sua história. Cada faixa carrega momentos de risos, lágrimas e superação. Da época de MC Pocahontas à mãe dedicada e artista realizada, ela se reinventa, mas sem perder a essência.
Durante nossa entrevista, Pocah compartilhou como a maternidade foi essencial para seu amadurecimento, trazendo um equilíbrio necessário entre sua vida pessoal e carreira. O disco, para ela, é uma homenagem a tudo o que a fez chegar até aqui e, ao mesmo tempo, é um convite para que todos que ouvem suas músicas se sintam acompanhados. Ela quer que suas letras sejam um reflexo de força, acolhimento e superação para aqueles que passaram por desafios semelhantes. E, através de sua música, Pocah compartilha com o mundo o poder de se reerguer. Confira a entrevista completa a seguir e, se curtir, não deixe de compartilhar suas opiniões nas redes sociais!
ENTREVISTA
Sobre o novo álbum e inspirações
VAM: Pocah, este álbum é um projeto biográfico. Que momentos específicos da sua vida mais moldaram a essência desse trabalho?
Foi um conjunto completo. Eu esperei muito tempo mesmo para lançar esse disco, então eu queria que ele viesse bem completo. E como a de qualquer pessoa, a minha vida teve momentos muito bons e momentos horríveis. Eu busquei inspiração em todas essas fases. Nas risadas e nas lágrimas para poder montar esse disco, desde a minha juventude até aqui. Quem escutar o "Cria De Caxias" vai ter uma boa noção não só de quem é a Pocah, mas também que é a MC Pocahontas e a Viviane.
VAM: Muitas faixas abordam temas sensíveis. Qual é a principal mensagem que você quer deixar para os ouvintes?
Sobre essas faixas em específico, que são as do Ato Viviane, a principal mensagem é que as pessoas que se identificarem saibam que elas não estão sozinhas. Quando passamos por dificuldades muitas vezes é fácil bater um sentimento de solidão e em seguida da incapacidade. Eu sou a prova viva. Todo obstáculo que surgiu na minha frente pode ter me dilacerado, mas eu saí viva dele e mais forte. E não é fácil. Quero que também fique claro que ninguém está sozinho.
VAM: Como foi resgatar suas raízes em Duque de Caxias e traduzir isso em música?
Foi muito divertido. As pessoas brincam que a MC Pocahontas morreu, mas amor, ela está vivíssima! Ela só mudou de nome hahaha. A fase MC Pocahontas, a funkeira de Duque de Caxias que cantava o funk ostentação, é algo que marcou muito uma fase na minha história. Artisticamente falando, está lá, guardadinho. E emocionalmente, ela sempre vai estar dentro de mim. Pude fazer algumas músicas muito desse estilo e foi uma delícia. "Só De Raiva" é uma das minhas favoritas do disco.
VAM: O que inspirou você a escolher os artistas que participaram de “Cria de Caxias”?
Eu queria que todas as participações fossem amigos íntimos, artistas que sou fã ou de fato alguém que tivesse ligação com a minha história e a minha música. E assim se formou esse time estrelado de artistas que eu respeito muito, escuto demais todos eles. Kevin O Chris, Durrony, Triz, MC GW, L7NNON, Rebecca, Tati Quebra Barraco, Slip Mami e, claro, a Vitória. Ela, inclusive, quando soube dos artistas que estariam presentes pediu para para participar também; então fizemos essa inserção do vocal dela no final da faixa "Vitória".
Família e maternidade
Como a participação da sua filha influenciou o álbum e a mensagem que você quer passar?
Influenciou tudo. Não tem como eu fazer um disco contando a minha história sem me colocar nesse papel de mãe, pois ser mãe é o meu maior papel. É quem eu sou. A Vitória foi a minha salvação nos meus piores momentos. Ela que me inspira dia após dia a conquistar meus objetivos, a correr atrás dos meus e dos nossos sonhos. Então, o disco ter sido finalizado tem influência direta dela.
VAM: A maternidade mudou sua relação com a música? De que maneira?
De modo geral mudou minha relação com a carreira. Eu era uma menina quando comecei a cantar, tinha apenas 16 anos. A maternidade é um período de amadurecimento gigantesco, foi quando de fato eu me tornei mulher. Comigo pelo menos funcionou dessa forma. Então, eu tinha uma preocupação extra em questão financeira, pois não precisava apenas me sustentar, mas também dar uma condição boa para minha filha - o que me motivava a trabalhar mais -, só que o meu trabalho é fora de casa, é longe dela. Então eu tive que aprender a encontrar um equilíbrio com essa vida corrida e também estar em paz com as minhas escolhas. Eu ser uma mãe realizada, me faz uma artista realizada e vice-versa.
VAM: O que significa para você ter sua filha envolvida nesse trabalho e poder deixar essa herança musical para ela?
Fiquei pensando muito sobre isso e acho que a faixa "Vitória" é a melhor coisa que poderia ter saído desse processo. Música é isso, é imortal. Quando eu já não estiver mais aqui, a música estará. Então a minha filha para sempre, até o fim dos dias dela, vai poder ouvir a mãe dela cantando o quanto a ama. E os filhos dela, e os filhos deles e por aí vai. É um amor que virou herança mesmo.
Crescimento pessoal e superação
VAM: Em “Livramento”, você fala sobre superação em relações abusivas. Qual foi o ponto de virada para transformar essa experiência em música?
Essa foi uma música muito difícil de ser criada. É um assunto pesado, que eu nunca falei antes em forma de música, mas já vinha um tempo que eu sentia essa vontade de botar para fora. Mesmo com essa vontade, alguma coisa não encaixava e a música não saia. Quando eu estava com a Lary, Bruninha e King, que são as compositoras principais que me ajudaram nesse disco, a música veio. Eu precisava estar com mulheres no estúdio, canetando, para essa música nascer, entende? No final, se tornou uma música muito especial que não é apenas sobre mim, mas sobre todas as mulheres que já passaram por isso.
VAM: Quais foram as lições mais marcantes que você aprendeu ao longo do seu amadurecimento pessoal e artístico?
Ser profissional. Isso é muito amplo mas também muito importante. Ser profissional é levar seu trabalho com seriedade, se esforçar para sempre entregar o melhor possível naquilo que você se propõe e ter uma consciência da responsabilidade que você tem. Quando eu era nova, eu não cuidava da minha voz, por exemplo. Eu passei por muitos perrengues por conta disso, cheguei a ter nódulos na garganta que poderiam me impedir de cantar para sempre. Hoje eu cuido da minha voz, faço fono, aulas de canto... isso é apenas um pequeno exemplo do "ser profissional".
VAM: Que conselho você daria para outras mulheres que estão passando por situações similares às suas?
“Tu não está sozinha, 180 nesse otário”. Como eu canto na música. Acho importante ressaltar que as mulheres vítimas de violência não estão sozinhas. Antes de um homem tocar na mulher ele dá muito sinais e acho importante não dar mais abertura para isso acontecer. Confiem nos sinais. Se o alerta vermelho acender, vá embora.
Desafios financeiros e de carreira
VAM: Quais foram os maiores obstáculos financeiros que você enfrentou para lançar esse projeto, e como eles impactaram sua visão sobre a indústria?
Esse é meu primeiro álbum e nossa, é muito caro fazer um hahahahah. Eu não diria um obstáculo, mas o mercado mudou muito em relação aos clipes. Existe todo esse debate que o YouTube não dá mais retorno, que as pessoas não estão mais parando na frente da tela para assistir vídeos, só querem ouvir a música mesmo na plataforma e por aí vai. Eu não me importo muito com isso não. Eu amo fazer clipes. Acho que um clipe é algo que fica eterno em um momento da história, ajuda a expandir a música, dar uma nova pegada e eu sou da geração que ficava com as minhas amigas na frente da TV só assistindo aqueles clipes maravilhosos com os looks, coreografias, conceitos, locações... Isso é ser artista pop. Então fiz questão de gravar o clipe para "Venenosa", que ficou lindo por sinal, e visualizers para todas as faixas do álbum. Gravados em Duque De Caxias, inclusive.
VAM: Como você equilibra a autenticidade e as expectativas da indústria musical?
O fato de já estar nesse mercado por mais de dez anos me fez ter uma casca bem grossa. Não vou dizer que essa pressão não me afetava, mas hoje eu tenho uma maturidade que me deixa com os pés no chão em relação à quem eu sou como artista. Não vou fingir ser algo que não sou. Não vou cantar algo que não acredito. Que triste seria minha vida se eu precisasse viver uma mentira para ser aceita. Até porque, eu cheguei até onde eu cheguei sendo autêntica, com erros e acertos.
VAM: Quais mudanças você gostaria de ver na indústria para que outros artistas possam contar suas histórias sem tantas barreiras?
Eu sinto que existem projetos e iniciativas que encorajam e impulsionam o movimento feminino na música, mas eu sinto que ainda não é o bastante. Eu digo por experiência própria. Não tem mulheres o bastante nas playlists, nos festivais e principalmente mulheres dos gêneros urbanos como funk, rap e trap. O talento existe. As artistas existem. Mas as portas nem sempre tão abertas e os espaços são bem pequenos. Como se uma/duas mulheres no topo junto com 15 homens fosse o bastante. Não é. E eu também sinto que muito disso vem da falta de mulheres nos bastidores. Precisamos de mulheres compositoras, produtoras, contratantes, empresárias, na mesa de reunião de gravadoras, de plataformas e por aí vai. Eu gostaria de ver uma democratização de gênero não só no discurso, mas na ação também.
Futuro e legado na música
VAM: No Rock in Rio, você fez uma apresentação impactante no Palco Espaço Favela. O que essa experiência significou para sua carreira?
Foi um sonho realizado. Quando eu comecei como MC Pocahontas, jamais pensei que o funk me levaria tão longe. Nesse meio do caminho, eu percebi que poderia sim ser possível até porque o funk explodiu de uma maneira absurda, dominou o Brasil e está dominando o mundo. Batalhei muito para conseguir esse espaço, pois eu me sinto merecedora. Eu construí uma história de 14 anos com muita garra e muita batalha. Tenho muito orgulho de tudo que fiz ao longo da minha carreira e esse show veio para coroar de fato essa minha trajetória.
VAM: Como você enxerga o legado que quer deixar para futuras gerações de mulheres na música?
Fico muito lisonjeada quando alguma MC que está começando me coloca nesse lugar de referência. Acho que o maior legado que posso deixar está nas minhas músicas. Eu canto sobre a liberdade da mulher de ser e fazer o que quiser. De ser livre para se amar e amar o outro ou outros ou ninguém. A mulher não tem que seguir regra nenhuma, cartilha de nada. Mulher só tem que ser feliz.
VAM: Que sonhos você ainda quer realizar na sua carreira?
Cantar em um estádio, tipo o Maracanã.
EQUIPE
Direção Criativa: Giselle Dias
Dir. De Fotografia: @ch.pinho
Glam: @yago_maia_
Styling: @lailaalvess_
Entrevista: @antonnio.italiano
Assist. de Fotografia: @tiagosuzarte
Edição: @freshmindco
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