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O que está acontecendo no Líbano? Quais as causas que fizeram o país se juntar de forma inédita e hi

Informações diretamente do Líbano: Colunista VAM Bárbara Darwiche 



A insatisfação do libanês vem de muito tempo pela má administração e corrupção do governo, que além de prover um alto custo de vida e uma precariedade dos serviços básicos prestados. Segundo o Banco Mundial, mais de 25% dos libaneses vivem abaixo da linha de pobreza. Muitos acabam se refugiando para países mais desenvolvidos, ou com melhores oportunidades, como Brasil, Canadá, Austrália, etc.



Além da dificuldade de se viver bem, o estado possui uma dívida pública de 85 bilhões de dólares, 150% do PIB nacional, e 50% do seu orçamento anual é consumido com dívida pública. E adivinhem quem é que paga essa dívida?!


Fora esses problemas, o Líbano ainda conta com um governo arcaico e fora de contexto para os dias atuais, e que contribuem de maneira enfática para que o próprio povo libanês se divida. Esse sistema de governo é dividido em comunidades religiosas, o presidente deve ser cristão maronita, o que preside o parlamento muçulmano xiita, o primeiro ministro muçulmano sunita.



Hoje, no parlamento, as 128 cadeiras estão divididas em: 64 cristãos (34 maronitas, 14 ortodoxos ocidentais, 16 divididos em cinco comunidades), 64 para islâmicos e druzos (27 sunitas, 27 xiitas, 2 alawitas, 8 druzos).



Início das manifestações.


No dia 14 de outubro o Líbano sofreu um desastre com as queimadas de suas florestas. Foram registrados 103 incêndios, diversas famílias abandonaram suas casas após diversos casos de asfixia e um civil morreu tentando ajudar a guarda civil. No dia seguinte, uma chuva conseguiu acabar com o incêndio, e a partir daí se iniciaram protestos pedindo ao governo que cuidasse mais do meio ambiente.


A gota d’água aconteceu no dia 17 de outubro, quando o governo apresentou um pacote de medidas de austeridade, em que uma dessas medidas era a cobrança de 20 centavos diários, ou 6 dólares por mês para realizar ligações pelo aplicativo WhatsApp. As ruas começaram a ser ocupadas de uma forma incrivelmente linda e pacífica, os manifestantes cantavam a retirada de todos os governantes, incluindo a renúncia do primeiro ministro Saad Hariri, que anunciou sua renúncia nessa terça feira, dia 29.


Após o início das manifestações, o governo voltou atrás sobre a cobrança do aplicativo, mas isso não foi motivo para o povo, já muito insatisfeito, recuar. As manifestações continuam diariamente, e se mantiveram por muitos dias pacíficos. O exército se manteve neutro, e anunciou que não haverá o uso da força contra os manifestantes.


Antes da renúncia, Hariri ofereceu um pacote de medidas. Nele, o déficit do orçamento foi zerado, não havendo novos impostos, salários de parlamentares e ministros serão reduzidos pela metade, os bancos deverão cobrir 3,4 bilhões do déficit, e os impostos aumentarão contra as instituições financeiras. O governo também reduziu quatro ministérios, fechou algumas agências e o ministério das comunicações, reduziu em 70% o orçamento da agência responsável por projetos de construção e desenvolvimento. Ainda serão distribuídos 160 milhões de dólares em empréstimos para construção de casas e milhões de dólares, não especificados, distribuídos para famílias que vivem na pobreza.


Aumento da tensão


A tensão começou a aumentar quando Hassan Nasrallah, líder do partido político Hezbollah, (conhecido como mini estado, tamanha sua força), se pronunciou dizendo que não irá aceitar a queda do governo, nem uma nova eleição e nem uma racha na coalizão, que “se as coisas continuarem dessa maneira a anarquia vai dominar”, e que de outra forma é possível seguir diálogo.


Também existe a preocupação pelo país ser um alvo internacional, onde o Hezbollah, que luta ativamente contra Israel, se torna a única visão de segurança sobre esses ataques e de terroristas. Assim, a população também se divide em apoiar a queda de todos, incluindo o Hezbollah ou não, temendo a segurança do país.



Protestos a moda libanesa


O mais interessante e motivador dessas manifestações foram a proporção que se tomou, todos libaneses e descendentes lutando por um país melhor. Houve protestos na França, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Brasil e diversos outros países. Os protestos apesar de sérios, não deixaram que a alegria dos libaneses fosse embora. Líderes religiosos que há tanto tempo se dividiam manifestavam juntos, e de mãos dadas, teve muita dabke (dança folclórica), crianças, adultos e idosos participaram, além de todo o respeito e carinho do exército libanês para com o povo, um exemplo de alegria que o povo libanês sempre teve como característica marcante.

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