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No mês que representa a nossa sigla de Orgulho apresentamos o artista Carmo Dalla Vecchia

Atualizado: 24 de jan. de 2024


Nascido em um dos estados mais conservadores do Brasil, Carmo se descreve como o "viado da família brasileira". Mas nem por isso deixa de enfrentar o preconceito, que é real e existe.

Carmo Dalla Vecchia em entrevista
CARMO DALLA VECCHIA + VAM Magazine

Só em 2022, o Brasil registrou 273 mortes violentas de pessoas LGBT+. Segundo o fundador do site Observatório de Mortes e Violências conta LGBTQI+ , o dado evidencia que o Brasil é um país violento, com alta taxa de homicídios em geral, com reflexos óbvios sobre a população LGBTI+ em particular, já que muitos casos têm agravantes como a desfiguração do rosto das vítimas, mutilação de órgãos genitais, e o estupro.

Por seu lugar na arte e na sociedade, Carmo representa força e identidade para seus fãs da televisão, do teatro e na vida pessoal. Há bons anos na telinha, o ator exibe uma extensa fileira de sucessos, com personagens que transformaram a arte de atuar.

Para o lançamento desta edição mais que especial, Carmo, pai de Pedro, de três aninhos, fala sobre o que o emociona nessa trajetória de sucesso, desde sua origem no sul, passando pelo mundo fashion como modelo e também depois como ator.


Casado, celebrou em março deste ano a união com João Emanuel Carneiro com a seguinte reflexão: "Hoje faz 17 anos que nos casamos e desde o início descobrimos que nos fazemos muito bem. Juntamos nossos livros e não nos enxergamos mais sem a companhia do universo do outro. Hoje somos três. Antes eu nem fazia ideia de que podia ser tanto e agora somos homens mais fortes juntos".

Para o nosso lançamento, Carmo Dalla Vecchia posou para as lentes do fotógrafo Victor Hugo Cecatto, em locações que exploram as paisagens do Rio de Janeiro. E para deixar tudo mais lindo, Domingos de Alcantara, seu par na novela, ator e figurinista, assina o style da capa. Confira a seguir, a entrevista mais que especial concedida a Antonnio Italiano, nosso editor.

Carmo, quero começar agradecendo muito por tê-lo na capa da VAM Magazine neste mês que tanto representa para nós.

Queria começar lá 1993, quando você saiu de Santa-Maria, Rio Grande do Sul, e veio para o Rio de Janeiro? O que o motivava e o que o motiva —nos quase 52 anos que completará em agosto— a continuar buscando seus sonhos e traçando objetivos? Qual a sua relação com o tempo?

Descobri que percorrer é muito mais divertido do que chegar, por isso sonhos são tão essenciais. Acho lindo o tempo e as marcas que ele traz, sejam de conhecimento ou rugas. Não costumo me atrair facilmente por gente jovem. Costumo achá-las lindas e sem graça.


Você começou sua carreira como modelo em 1988, e dois anos depois você ganhava o Look of the Year, que lhe gerou contrato com uma grande agência. Em 1994 começou a estudar teatro na Oficina de Atores da Rede Globo, correto? Conte um pouco sobre esse início como modelo e ator. Sua família o apoiou? Minha família não me atrapalhou em nada, o que já é muito. Não dei certo como modelo, apesar de ter ganhado um concurso tão famoso na época. Eu era pouco articulado e muito bicho do mato. Todo o trabalho que fazia era para comerciais de TV com fala, mas eu sonhava em viajar e ser modelo fotográfico e de passarela. Eu era um efebo apetitoso e suculento, e naquela época era o tipo que a TV procurava. Minha formação em teatro fazia uma grande diferença nos testes, mas durante muitos anos eu me senti frustrado porque minha carreira de modelo não tinha dado certo.

Cobras e Lagartos, Cama de Gato, A Favorita, Amor Eterno Amor, A Regra do Jogo, Joia Rara, Império, Malhação, Vidas Brasileiras, e muitos outros trabalhos de grande audiência e sucesso. Qual o preço de ser artista? A fama tem um preço? Tudo na vida tem consequências, mas batalhei muito para conseguir trabalhar e conquistar tudo que queria. Vou reclamar da fama? Nunca. Sou feliz assim. Amo gente e trato todo mundo que chega a mim com educação e respeito. Acho que sou o único ator que responde 100% dos directs que recebe via Instagram.

De 1994 a 2019 foram mais de dezessete peças no Teatro, além de musicais, junto a muitos personagens emblemáticos da TV. Essa rotina não cansa? Você pensa em se aposentar? Chega uma hora que o artista descansa, Carmo? Eu tendo a não querer descansar, porque usamos a nossa própria vida para criar. Vemos coisas, absorvemos com o nosso olhar e logo pensamos em como usar isso em personagens. Amo meu trabalho, morrerei trabalhando e amando o meu trabalho.

Como está a sua preparação do monólogo para pessoas LGBTQIA+? Começarei após o término da novela. Estou organizando depoimentos que recebo e escolhendo a ficha técnica.

Você atualmente vive Érico, em Amor Perfeito, um homem homossexual, conflitado, em uma novela de época, ambientada nos anos 30 e 40, período de muito preconceito, um grande sucesso da Rede Globo. Quando e como você se identificou como um homem gay? E que papel tiveram sua família e amigos nessa descoberta? Eu me identifiquei desde que comecei a ter consciência do meu desejo, mas acho que o fasto de gostar e ter prazer em namorar meninas fez com que eu me distraísse da minha realidade mais potente. Talvez por isso tenha tido tanta passibilidade (sic) no universo hétero. Mas talvez essa mesma passibilidade seja uma cicatriz pelo preconceito que sofri a vida toda. Senti desde muito cedo que sendo gay não haveria muito espaço na minha casa para eu permanecer por muito tempo. Meu pai era um homem machista que gostava muito de mulheres, e eu era um competidor do mesmo sexo, na mesma casa. Acho que era um pouco assim que a cabeça dele funcionava, e além de tudo era viado, ou seja, eu certamente não era bem-vindo ali. Assim, aos 19 anos fui morar em São Paulo onde me sustentei e trabalhei desde muito cedo.


Como foi o convite e a preparação para esse novo personagem?

Teve uma preparação de prosódia por se tratar de Minas Gerais e o entendimento da época. Quanto à questão que envolve a chantagem que sofro na novela, foi fácil me remeter ao preconceito e a quantidade de vezes que engoli o choro calado, me sentindo envergonhado por ser tão exposto numa sala de aula, por exemplo.

Quais são as personalidades LGBTQIA+ que admira?

Não lembro de nenhuma personalidade que se tivesse se posicionado no nosso país e falado sobre o tema a ponto de eu me sentir representado e acolhido quando eu era jovem. Mas atualmente sou fã demais de:

BIANCA MANICONGO @bixarte

EDUARDO LEITE @eduardoleite45

ERIKA HILTON @hilton_erika

FERNANDA GENTIL @gentilfernanda

GIL DO VIGOR @gildovigor

GIL MONTEIRO @gilmonteirooficial

GIOVANNA HELIODORO @transpreta

IVAN BARON @ivanbaron

JEAN WYLLYS @jeanwyllys_real

LORENA COUTINHO @lorenacoutinhooficial

LOUIE PONTO @pontolouie

LUCA SCARPELLI @olucascarpelli

LUCAS DE VITO @_lucasdevito

LUCAS RANIEL @lucasraniel_

MAITE SCHNEIDER @maiteschneideroficial

MARCELO COSME @mcosme

MAURO SOUSA @maurosousa

NANY PEOPLE @nanypeople

PEDRO HMC @hmcpedro

PEPITA @pepita

REDDY ALLOR @reddyallor

RENATA CARVALHO @renatacarvalhooficial

RITA VON HUNTY @rita_von_hunty

SILVERO PEREIRA @silveropereira

THAMMY MIRANDA @thammymiranda

VÍTOR DE CASTRO @vitordicastro

São muitos. VIVA A TECNOLOGIA QUE DEU VOZ A TANTOS, VIVA O INSTAGRAM.

Vamos falar de história de amor?! Como conheceu seu marido, por que escolheu João Emanuel como companheiro para a vida? E por que acha que João lhe escolheu? Nós nos conhecemos num projeto de teatro que não deu certo. O projeto só existiu, porque foi um plano dele para me pegar, e isso sim deu muito certo, e está dando há quase 18 anos. Eu o escolhi porque percebi que juntos iríamos ser muito mais felizes, e ele me escolheu porque eu não sou chato.

Sua história de amor, de certa forma, se tornou pública. Houve algum período em que foi mais difícil lidar com isso? Você e João foram vítimas de homofobia? Qual a sua experiência com os haters?

Os haters não costumam se aproximar de mim, já que eu mesmo me intitulo "o viado da família brasileira". Que graça teria alguém me chamar de boiola? E a homofobia que sofremos nunca chegou até nós de forma óbvia. Acho que hoje as pessoas não têm tanta coragem de manifestar seu ódio a um casal que está há tanto tempo junto e que é bem-sucedido. Mas também nunca andamos de mãos dadas nas ruas, pois infelizmente sentiríamos desconforto, e acho que isso não deixaria nossas mãos relaxarem. Não saio na rua querendo comprar briga com meu marido do lado, procuro proteger quem eu amo, mas ao mesmo tempo quando saio sozinho, costumo usar muita saia, pintar as unhas, e camisetas que deixam claro a minha orientação sexual, faço isso até como um ato político. Com esse editorial que fiz para a VAM, comprei o vestido que foi usado nas fotos e estou bem orgulhoso dele, me sentindo bem gato.

Agradeço muito ao Domingos de Alcantara, meu companheiro de cena, que foi quem fez a produção de moda, e me apresentou a grife do Guto Carvalho Neto e também a Beira.


E religião, Carmo? Você tem? Quando dizem que Deus não nos aceita, como você rebate?

Sou Budista há quase 25 anos. Sou coerente comigo, com a minha religião e com a minha orientação sexual. E o que o budismo diz a respeito desses temas? NADA. Fala nada. Não faz parte da religião Budista questionar ou avaliar a postura sexual de ninguém. O que eu rebato? A princípio não rebato, mas se tiver que falar algo apenas explico que não acredito nesse Deus e que nem todo mundo tem a mesma prática religiosa, e peço respeito a isso. Se você é gay, e pratica uma religião que te condena, abandone essa religião. Pois ao contrário, sua postura, será incoerente e é muito provável que você tenha herdado a prática religiosa de seus pais, que talvez sejam os mesmos que te condenam. Nem o papa condena mais nossa comunidade. Acho que começaram a ver que o vale onde habita a minha comunidade é gigante e que o êxodo seria muito maior do que haviam pensado. Se bem que esse papa parece ter um olhar muito mais humanista do que o anterior que foi um dos fundadores do que chamam nossos algozes de ideologia de gênero, um termo precário, criado para abandonar os 60 anos de estudo de todas as áreas do conhecimento antropológico. Das ciências sociais, da biologia, da psicologia, do direito, da história, enfim de todas as ciências, para dar aval à fala dos homofóbicos.


Pedro nasceu no dia do seu aniversário, é um doce e já está nas redes sociais com você criando vídeos fofos. Como foi o processo de gestação e paternidade? Como escolheram quem iria gestar o Pedro?

Vou explicar o que é uma barriga de aluguel. Você compra um óvulo que seria despachado numa menstruação, faz a união desse gameta com o esperma de um futuro pai e coloca em uma barriga de aluguel. A parte feminina que doa o óvulo não é a mesma que vai parir a criança. Tudo isso com um vínculo financeiro em que todos os menores detalhes são acordados entre as partes. Foi uma experiência linda e feliz para todos, e mantenho uma conexão e uma gratidão com a mulher que foi a nossa barriga de aluuel até hoje.

No mês do orgulho e para finalizar a nossa entrevista, descreva quem é Carmo Dalla Vecchia e como você se vê no mais íntimo dos sentimentos.

Não consigo me definir facilmente. Apenas procuro fazer com que o mundo ao meu redor seja feliz para mim e para quem está na minha frente.



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