Entre os dias 23 e 27 de junho, aconteceu o São Paulo Fashion Week edição número 51 – SPFWN51. O evento foi 100% digital devido à pandemia do COVID-19. Foram 43 marcas se apresentando através de fashion films onde cada vídeo dura em média 5 minutos. Após a apresentação, o diretor criativo de cada marca deu uma breve entrevista contando o processo criativo da coleção.
Neste SPFW tiveram marcas que já se apresentaram no evento, novos entrantes, e o Projeto Sankofa. O projeto é uma iniciativa do movimento Pretos na Moda e da Startup VAMO (Vetro Afro-indígena na Moda) com o objetivo de promover a inclusão, visibilidade e diversidade de empreendedores racializados. Oito marcas foram escolhidas para participarem do Projeto Sankofa na semana de moda. Elas receberam mentorias e foram acompanhadas por marcas já veteranas do evento.
Podemos identificar significativos movimentos na SPFW deste ano, que fizeram o evento ser ainda mais interessante. As marcas exploraram a brasilidade como nunca a fizeram antes. Falaram da ancestralidade com orgulho e contaram histórias de mulheres guerreiras. A cultura afro-indígena não foi esquecida. A natureza linda e bruta foi mostrada nos fashion films, e quase podíamos sentir o cheiro das nossas matas através das telas. As cabines dos caminhões, que levam sonhos pelo Brasil afora, também foram retratadas. A tradição folclórica é abordada junto à miscigenação do povo brasileiro. E o trabalho manual é presente e exaltado por muitas marcas no SPFW.
Por falar em trabalho manual, o upclycling esteve muito presente em muitas das coleções apresentadas. Esta é uma técnica em que quando uma peça de roupa não é mais útil para a finalidade a qual foi inicialmente projetada, ela não é descartada, e sim transformada, sem ser desintegrada, para dar um novo sentido a ela. O crochê, muito presente na semana de moda, é elevado a novos níveis quando é agregado a roupas que já existem e não tem mais uso. O patchwork, técnica que reaproveita resíduos têxteis, também esteve presente na SPFW. Estes resíduos são usados em peças que seriam descartadas, para atribuir um novo proposito a elas.
Produções minimalistas também foram apresentadas a nós durantes esses dias de evento. Além de algumas marcas trabalharem com cortes mais retos e cores sóbrias, que são características deste tipo de estética, as estilistas explicaram que este é um momento de olhar para dentro, um momento introspectivo e de reflexão sobre os dias de pandemia que estamos vivendo, e nada melhor do que usar peças simples e confortáveis para isso.
Por outro lado, a estética maximalista também fez seu nome na semana de moda de São Paulo. Mostrando que já estão preparados para sair de casa, muitos estilistas colocaram nas roupas a vontade de se arrumar novamente. E o resultado foi arrebatador. Algumas montações extravagantes com volumes e texturas, outras estéticas carnavalescas e supercoloridas. Brilho foi o que não faltou nessas produções. Para viver em um mundo pós-pandemia, conforto e proteção são imprescindíveis, e os looks estavam todos preparados para vivermos esses dias tão esperados.
O streetwear e o sportwear se entrelaçaram nas coleções desta temporada. Nessas estéticas, conforto e performance falam mais alto. Já não é de hoje que as marcas abordam estas tendências. Há algum tempo podemos ver nos desfiles, nos fashion films e melhor ainda, nas ruas, a verdadeira história da moda sendo contada pelos jovens que aderem a estes movimentos.
Outra tendência que veio para ficar é a moda agênero. A partir do momento em que a pessoa escolhe a roupa e não a roupa que escolhe a pessoa, a moda genderless, como também é conhecida, começa a ganhar força. Deixar as pessoas a vontades para escolher o que lhes faça bem, é o objetivo deste movimento. Na indústria, as peças são confeccionadas pensando no conforto, qualidade, mas nunca no gênero homem ou mulher.
Esta, sem dúvidas, foi uma das temporadas com mais consciência socioambiental por parte das marcas. Consumo consciente foi um tema muito conversado nas entrevistas após as apresentações. O objetivo não é vender a roupa pela roupa, e sim agregar valor ao produto comercializado.
A preocupação com a cadeia de produção das peças é grande e a vigilância vem por parte do próprio consumidor. Este quer saber quem fez suas roupas, se essa pessoa trabalha em condições análogas à escravidão, se ela é bem paga, e se toda a cadeia de fornecedores da marca trabalha de acordo com as diretrizes socioambientais. Muitas marcas participam e apoiam projetos sociais se comprometendo com comunidades inteiras. Tecidos sustentáveis também não foram raridade de encontrar nas coleções.
A diversidade, equidade racial, protagonismo feminino, sustentabilidade e inovação foram temas que marcaram esses dias de SPFW. Tivemos mulheres de todas as idades, todos os tipos de corpos, cores e com diferentes cabelos. Em muitas roupas foram usados tecidos ecológicos e matéria-prima tecnológica. Hoje a necessidade da busca de processos mais sustentáveis para a cadeia de valor na moda é latente. O importante é que já identificamos essa necessidade, já temos um movimento interessante de pessoas a favor da sociedade e do meio ambiente, mas ainda há muito o que ser feito.
A São Paulo Fashion Week mostrou que a moda brasileira é rica e muita gente boa tem feito um ótimo trabalho por aqui.
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