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Maju de Araújo desfilou no Milão FW, é Forbes Under 30 e agora está na capa da VAM Magazine

Capa da Forbes Under 30 e considerada a primeira modelo brasileira com síndrome de Down a desfilar em passarelas como Milão e São Paulo Fashion Week, Maju de Araújo é referência quando o assunto é representatividade. “Decidi mostrar às pessoas que não importava o que elas achavam, esperavam ou diziam, eu seria o que nasci para ser.”

Mostrando que nasceu para brilhar, em 2021 Maria Júlia de Araújo ou Maju, como é conhecida, se tornou capa da Revista Forbes, entrando para a conceituada lista Under 30 que destaca as personalidades mais brilhantes de até 30 anos que revolucionam e mudam o mundo. Sua voz, carreira e feitos a colocam como um expoente do cenário social, onde debates de representatividade, inclusão e pertencimento, precisam ser fomentados cada vez mais. Maju foi a primeira pessoa com Síndrome de Down a desfilar nas famosas passarelas da Brasil Fashion Week, na semana de moda de Milão e segue pelo mundo mostrando que a moda pode, sim, ser para todos.


Filha da empresária Adriana de Araújo e do analista de sistemas Orlando Pereira Dias, desde a infância, já se interessava pelo universo da moda e dos desfiles. Adorava brincar de desfilar e fazia caras e bocas como se estivesse sendo fotografada. E o sonho que parecia ser distante foi tomando forma com a persistência da família em realizar o desejo de Maju, que após voltar de um coma, em decorrência de uma meningite acordou e disse à mãe que queria ser uma “modelo famosa”. As palavras de Maju soaram proféticas. Aos 16 anos, através do Projeto Passarela do Grupo MGT, foi considerada a nova descoberta como modelo e começou a estudar e a se profissionalizar na área. Entrou no curso School Models, onde lapidou seu talento natural e se formou em novembro de 2019.


E hoje, é considerada um fenômeno nas passarelas e no universo digital, onde produz conteúdos sobre múltiplos assuntos. A influenciadora que já desfilou em consagrados eventos de moda do mundo é embaixadora digital de uma gigante global da beleza, a L’Oréal Paris, em que assina uma coleção de joias da joalheria AHMI e atua como influenciadora digital, contando com a ajuda da mãe, Adriana e da irmã, Larissa para compartilhar com os seus mais de meio milhão de seguidores (só no Instagram), os bastidores e o resultado de seu trabalho, além de reforçar todos os dias a importância da inclusão e chamar a atenção para o capacitismo. E, apesar dos desafios com a fala, Maju se comunica bem, por meio de

expressões e das Libras(Língua Brasileira de Sinais), que ela usou, inclusive, para participar de uma série, chamada República, produzida para o Instagram e que durou 6 meses.


Na conversa com o editor chefe VAM, Antonnio Italiano, Maju relembra seus principais desfiles e trabalhos, preconceito e inclusão no mundo artístico, conquista pessoal estampando a capa da Forbes Under 30, sonhos e muito mais! Leia a seguir.

VAM: Quando e como você começou a modelar?

R: Comecei a modelar no ano de 2018, logo depois de ter saído do hospital por causa de uma meningite grave. Enquanto estive internada e em coma cheguei a acordar uma vez pra falar pra minha mãe que queria ser modelo e que tudo iria dar certo. Assim que saí do hospital comecei a estudar e investir nessa carreira. Me formei no ano de 2019 e estreei na minha primeira semana de moda, a Brasil Eco Fashion Week!

VAM: Sempre teve o sonho de ser modelo?

R: Sim, desde criança eu já sonhava em ser modelo! Eu sempre amei me arrumar, escolher looks e tirar fotos! Gostava de pegar maquiagem e as roupas das bonecas das minhas irmãs, de desenhar meus looks... E em todo lugar que eu ia eu precisava entrar desfilando!


VAM: Quais as maiores dificuldades que enfrentou no início da carreira?

R: O preconceito e algumas consequências práticas que adquiri por conta dele. Esse desafio acabou trazendo muitas barreiras no meu desenvolvimento, dificultando ainda mais meu acesso à espaços na sociedade que já eram meus por direito. Ser uma pessoa com deficiência já é um desafio muito grande, não pela deficiência em si, mas pela forma como as pessoas nos enxergam por conta dela. As pessoas nos limitam e assumem que não somos capazes de ocupar espaços mesmo que tenhamos nossos potenciais e limitações como qualquer outra pessoa. A falta de dinheiro também foi um grande obstáculo, ainda mais somada ao preconceito. É difícil encontrar escolas que nos aceitem, ainda mais sem dinheiro. A inclusão tem um preço muito alto ainda.


VAM: Qual foi a reação da família quando começou a dar sinais de que queria entrar para o mundo da moda, espaço tão nichado em relação aos padrões?

R: Minha família sempre me apoiou e me ajudou nesse sonho. Entramos todos juntos nessa para fazer acontecer. Minha mãe me colocou em um curso profissional para modelo e desde lá não parei mais. Comecei a desfilar em semanas de moda aqui pelo Brasil, decidi abrir minha conta no Instagram e publicar mais sobre a minha história. Cresci muito e comecei a amar criar conteúdos, me descobri nesse meio também. Hoje, ela e minha irmã Larissa cuidam da minha carreira. Seguimos vivendo esse sonho juntas!


VAM: Quando foi a primeira vez que sentiu que te reconheceram como modelo, que te aceitaram naquele espaço?

R: Sendo bem sincera essa nunca foi uma preocupação minha porque eu sempre soube o que eu era, independente do que as pessoas achavam. Eu sabia quando não era aceita mas isso nunca me fez sentir menor, pequena. Eu sabia que era meu espaço também apesar de ter precisado lutar um pouco mais do que algumas pessoas para ocupá-lo. Eu poderia chegar chutando portas, frustrada e cansada mas decidi escolher um caminho diferente. Decidi mostrar as pessoas que não importava o que elas achavam, esperavam ou diziam eu seria o que nasci para ser. Foi a partir desse pensamento que, naturalmente, as pessoas passaram a me reconhecer como quem eu sou, passaram a me ouvir, a me ver. Hoje recebo tanto amor e carinho das pessoas no mundo afora e hoje me sinto mais do que apenas aceita sabe? Posso sentir a alegria de inspirar e motivar pessoas e de ser uma referência pra elas.


VAM: Quem te ajuda e dá suporte na carreira?

R: Sempre tive apoio e suporte da minha família, eles foram e são meus maiores incentivadores. São eles também que cuidam da minha carreira e me ajudam nesse sonho, principalmente a minha mãe, Adriana, e minha irmã mais velha, Larissa, que são quem estão mais à frente disso comigo. Tudo isso tomou uma proporção bem grande, mais rápido do que esperávamos, por isso também, hoje tenho uma equipe de profissionais que me auxiliam com os jobs e imagem na imprensa.


VAM: Você é a primeira brasileira com síndrome de Down a desfilar em passarelas como Milão e São Paulo Fashion Week. Sente que se tornou uma referência para outras pessoas PCDs? Recebe esse tipo de mensagens das pessoas?

R: Sinto que posso ser inspiração para outras pessoas com deficiência que me acompanham por mostrá-las que podemos seguir os nossos sonhos e chegar em lugares inimagináveis. Recebo muitas mensagens dessas pessoas, além de receber também de mães e outros familiares que me seguem e gostam do meu trabalho. Me sinto honrada em poder estar nesse lugar hoje, mostrando novos caminhos de oportunidades e possibilidades para PCDs e outras pessoas fora do padrão.


VAM: Você teve uma meningite que mudou a sua vida. Pode contar um pouco dessa história?

R: Em setembro de 2018 fui diagnosticada com meningite bacteriana. Já cheguei no hospital inconsciente e com uma previsão muito negativa dos médicos. Se eu acordasse do coma seria com sequelas graves como perda da audição, visão, amputação de membros entre outras coisas. Eu fiquei algumas semanas em coma com o pior diagnóstico possível. Ainda no meio do coma, como falei na resposta de cima, eu cheguei a acordar uma vez para conversar com a minha mãe e dizer a ela que meu sonho era ser modelo e que eu sairia dali. A promessa se cumpriu e depois de algumas semanas eu acordei, me recuperei e um dia depois da minha alta já estava correndo atrás desse objetivo de ser modelo!


VAM: Quais foram os principais desfiles e trabalhos?

R: Já tive a oportunidade de participar de muitos trabalhos e projetos lindos. Esse ano me tornei embaixadora da L’Oréal Paris e foi um ponto muito importante na minha carreira, me colocando em um lugar de destaque ao lado de grandes nomes da mídia nacional, como as atrizes Taís Araújo e Larissa Manoela. Em relação aos desfiles, todos são uma sensação única. Esse eu desfilei pela primeira vez na São Paulo Fashion Week, pelo projeto Ponto Firme, e cheguei a me emocionar ao cruzar as passarelas. Além disso, esse foi meu segundo ano consecutivo na Milão Fashion Week, uma das semanas de moda mais importantes do mundo. São momentos como esses que fazem tudo valer a pena.

VAM: Entrar para a lista Forbes Under 30 é uma de suas conquistas mais marcantes. Com toda a visibilidade que ganhou, se tornando uma referência global, de que forma usa sua voz na luta pelos direitos das pessoas com deficiência?

R: Receber esse título foi realmente algo grandioso e uma das maiores conquistas que tive na minha carreira. Chegar até aqui não foi nada fácil, mas também não é impossível. E é exatamente isso que eu quero mostrar para todos, que podemos e devemos ocupar todos os espaços que sonhamos e que ser uma pessoa com deficiência não deve ser impeditivo para irmos atrás dos nossos sonhos. Eu estar aqui hoje, ocupando esse espaço, já é de grande representatividade, não só para outras pessoas com deficiência, mas para toda uma sociedade que não está acostumada a nos ver nesses lugares.

VAM: O que considera ter sido sua maior conquista na carreira e vida pessoal?

R: Eu já alcancei muitas coisas que sempre sonhei, mas as mais marcantes, em relação a carreira, foram: ter sido a primeira brasileira com síndrome de Down a desfilar nas famosas passarelas da Brasil Eco Fashion Week, da Milão Fashion Week e da São Paulo Fashion Week, além de ter tido a honra de ser capa da Forbes Under 30, no ano passado! Além de tudo isso também fazer parte da minha vida pessoal, eu não teria seguido esse sonho se não tivesse conseguido vencer a meningite em 2018, então isso também foi muito importante. Tem muitas conquistas especiais, e não consigo classificar entre menos ou mais importantes porque todas elas tem um grande significado na minha história.

VAM: Sente que hoje é aceita no mundo da moda?

R: Hoje eu sinto que conquistei o meu espaço mas reconheço que ainda falta muito para que tenhamos mais representatividade nesse meio. Eu quero ver nas passarelas mais pessoas com deficiência, mais corpos diferentes, alturas diversas… A alta moda, ainda é um espaço bem nichado e de difícil acesso para todos. Além disso, ainda precisamos aprender muito sobre acessibilidade, direitos e sobre potenciais das Pessoas com Deficiência. Cada deficiência é única e só podemos aprender a dar acessibilidade quando nos permitimos conviver com PCDs. Seja no mundo da moda, nos bastidores, nas campanhas de marketing... Podemos estar em todos esses lugares, mas ainda faltam oportunidades justas.

VAM: Já sofreu algum preconceito no meio artístico?

R: O preconceito está em todo lugar. A ignorância é uma semente negativa que infelizmente cresce em mentes pequenas e se transforma em atitudes, pensamentos, olhares e falas opressoras. E o preconceito não é só isso, ele se manifesta de diversas formas e só quem sofre diariamente com isso sabe o quão difícil é. Eu sofro preconceito de diversas formas nesse meio mas é o que acontece quando você decide pisar firme e lutar pelo acredita. Vivemos em um mundo onde as pessoas ainda não entendem de fato a importância da diversidade, do relacionamento, da convivência e do respeito e quando você decide se posicionar e mostrar que não aceita nenhuma forma de opressão de identidade, as pessoas se incomodam. Isso significa que estamos trilhando um caminho de desafios, muita luta e sacrifícios e também significa que tudo isso pode implicar transformação. Mudar pode machucar, mas é necessário. E apesar disso, minha experiência nesse meio tem sido algo indescritível. Todo o crescimento, aprendizado, toda a realização que tenho experimentado é muito maior e mais valioso que qualquer situação negativa pontual!


VAM: Qual o seu maior sonho?

R: Tenho muito sonhos, tanto na vida profissional como na pessoal. Quero muito casar, ter filhos e construir uma família. Também sonho em participar de semanas de moda como a de New York e a de Paris! Além disso, sonho em ter a minha própria marca e em ser a estrela de marcas como a Gucci, Prada... Poder alcançar esses espaços significaria muito para mim.

VAM: O que ainda almeja conquistar no mundo da moda?

R: Gosto de acreditar que o céu é o limite. Quero continuar desfilando e alcançar cada vez mais a carreira internacional. Sonho em desfilar em semanas de moda como a de Paris e de New York e estrelar grandes marcas como Gucci e Prada.


VAM: Quais são suas peças de roupas preferidas? Como define seu estilo?

R: Eu amo vestidos bem chamativos, com bastante brilho e mangas bufantes! No dia a dia uso muito cropped, com peças que equilibrem como por exemplo de cintura alta, para dar mais elegância ao visual! Eu não consigo me definir em um estilo só, gosto de explorar as possibilidades do que me faz bem e combina com a minha identidade e personalidade! Mas eu amo ser elegante e usar looks bem ousados! Hoje tenho um estilista maravilhoso, o Eduardo Amarante, que produz looks incríveis!

VAM: Como foi a vida escolar da Maju? Tinha amigos no colégio? Já sofreu algum tipo de preconceito no ambiente escolar?

R: Essa foi uma das partes mais difíceis. Quando você é uma pessoa com deficiência coisas simples de tornam desafiadoras, não por causa da nossa deficiência, mas por conta do pensamento limitado e preconceituoso de algumas pessoas. Problemas financeiros podem dificultar ainda mais... Apesar de não podermos fazer o preconceito sumir com dinheiro podemos pelo menos, ocupar mais lugares simplesmente por podermos pagar. Essa não era a realidade da Maju, que enfrentou muitos desafios que tornaram sua vida escolar ainda mais difícil do que já era. Além dos problemas financeiros Maju teve muitos problemas de saúde. Precisou ficar um tempo sem estudar e quando tentou voltar as escolas não a aceitavam. As escolas ainda estão muito longe do ideal de acolhimento, respeito e comprometimento com as pessoas com deficiência. Infelizmente.


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