“Se formos pensar no assédio sexual, a mulher pode sim apresentar sinais mais expressivos, que podem ser notados e abordados no consultório..” — Dr Rhoger Felipe para Deise Dantas – Colunista VAM Magazine
O universo feminino é amplo e requer cuidado e gentileza ao ser abordado. Vivemos em uma sociedade que caminha a passos lentos – mas caminha – para o amanhecer de novos pensamentos e tratamentos tanto clínicos como psíquicos para as mulheres.
Tais mudanças estão presentes em tudo que envolve o indivíduo MULHER. Nesta edição de dezembro, conversamos com o ginecologista o Dr. Rhoger Felipe M. Czekalski, para falar um pouco sobre sua escolha na área e como ele vê essas transformações.
A cada pergunta ele disserta com sensibilidade sobre os pontos abordados, apontando os desafios e as conquistas do sexo feminino e faz o alerta sobre a importância do autoconhecimento.
A área da ginecologia sempre foi sua opção de especialização? O que o motivou a ser ginecologista?
Quando entrei no internato (nos dois últimos anos da faculdade) tinha ideia de ser cirurgião do aparelho digestivo! No entanto, ao iniciar o estágio de ginecologia e obstetrícia, me apaixonei pela possibilidade de optar por uma especialidade que abrangia uma parte clínica e uma parte cirúrgica. Hoje, em consultório, trabalho apenas com ginecologia bem mais voltada à cirurgia minimamente invasiva, assoalho pélvico e ginecologia estético funcional. Mas confesso que não abri mão dos meus plantões esporádicos de emergência em obstetrícia, que também é uma paixão!
Ainda existem tabus sobre a saúde íntima da mulher?
Com certeza! Não há dúvida que vivemos em uma sociedade onde a mulher precisa lutar muito para conquistar o seu espaço. Sem dúvida alguma, já evoluímos muito, mas é inegável que as mulheres ainda precisam provar muita coisa, mesmo sendo óbvia a sua capacidade! No campo da saúde e da sexualidade feminina não é diferente, os mesmos conceitos arcaicos ainda estão enraizados, até mesmo entre as próprias mulheres.
Sabemos que a mulher precisa fazer acompanhamento ginecológico ao menos uma vez no ano, mas diante da defasagem da saúde pública, há dificuldades nesse acesso. Para você, qual seria a melhor saída para a mudança desse quadro?
As rotinas e protocolos em ginecologia são atualizados e mudam constantemente. Inicialmente, pedimos um acompanhamento anual a partir do início da vida sexual, depois podemos espaçá-lo, de acordo com o perfil de cada paciente.
Os processos pelo SUS podem ser um pouco mais complicados em alguns municípios, o que pode levar algumas mulheres a buscarem acompanhamento em consultórios particulares. A meu ver, o SUS cumpre o que propõe quanto à saúde feminina para a grande maioria das mulheres alcançadas pelas estratégias do sistema, o problema, muitas vezes, está ligado à falta de informação e consciência!
Como um ginecologista lida com vítimas de assédio? Há um estudo para o cuidado com essas pacientes?
Como dito anteriormente, ainda há muitos desafios a serem superados na nossa sociedade. O caminho é longo, mas os avanços também já são importantes, apesar de ínfimos ainda! Acredito que no caso das mulheres, o assédio é presente quase o tempo todo: em casa, no trabalho, na rua, nos meios de comunicação. Portanto acho que o profissional ginecologista deve ser sempre acolhedor, aberto ao diálogo e informativo durante as consultas. Se formos pensar no assédio sexual, a mulher pode sim apresentar sinais mais expressivos, que podem ser notados e abordados no consultório.
A mulher brasileira, de um modo geral, conhece o próprio corpo? Você encontra dificuldades ao abordar esse tema com as suas pacientes?
De forma geral, infelizmente não. Vejo diariamente dificuldades consideradas mínimas a todas as mulheres, como o autoexame da mama, a localização do clitóris e a prática da masturbação. Não sendo repetitivo, mas a sexualidade feminina é um tabu social em todos os sentidos. Não é à toa que não vemos muitas propagandas sobre prevenção feminina se quer na relação sexual entre mulheres. Isso dificulta tudo, torna tudo “meio que proibido” e até “errado”, o que torna o papel do ginecologista ainda mais importante. Falar sobre sexo, libido, orgasmos, explicar sobre possíveis alterações na genitália e auxiliar no aprendizado sobre o autoexame é, sem dúvida alguma, uma grande oportunidade de conscientizar esta, e as futuras gerações de mulheres.
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