Denise Faertes, empresária e designer, aliada ao seu marido, Gil Haguenauer, e à sua filha, Rebecca Faertes, criou uma coleção de roupas e acessórios fitness pela sua marca Fruto do Conde. “A coleção de roupas esportivas tem conceito, design e estampa exclusivos. As roupas, chapéus, tênis e sapatos foram criados por mim e pela minha amada filha, Rebecca Faertes. As bolsas foram concebidas pelo meu marido, Gil Haguenauer”, conta a estilista.
Denise, Gil e Rebecca se dedicaram, com muito carinho e devoção, a fazer uma pesquisa ampla, a fim de desenvolver a coleção com um conceito e design bem-humorados e exclusivos. Eles elaboraram cerca de 30 desenhos, que fazem parte da mostra, considerando múltiplas influências, dentre estas e fundamental: a moda atual das ruas de Tóquio.
O trio definiu como estampa e principal referência a fauna brasileira – a saíra lagarta (Tangara desmaresti) e o sapo garimpeiro (Dendrobates tinctorius) – para expressar as cores das estampas, que foram então elaboradas e impressas. Assim surgiu a coleção de roupas, chapéus, bolsas, tênis, sandálias.
Na entrevista com a criativa Denise conversamos sobre a essência de ser mulher e empresária, trabalho e processos, identidade da coleção, carreira e histórico profissional. Vem conhecer essa mulher forte, cheia de personalidade e glamour. Leia a abaixo a entrevista do editor chefe Antonnio Italiano com Fartes:
VAM: Denise VAMos começar a entrevista querendo saber: Quem inspira a mulher criativa e empreendedora que transborda dentro de ti? Creio que a realização da potência humana exige deslocamento, mudança contínua, busca de novos desafios, de conhecimento e de realizações. Construir novas possibilidades de existir é essencial!
VAM: Trazendo já a conversa para inspiração, você acredita que o humor é ouro para que as coleções ajudem nas mudanças dos hábitos e pensamentos? O que levou você, junto a Gil, o seu marido, e a sua filha Rebecca a referenciar a fauna brasileira em 30 desenhos para estampar a sua recente coleção com a marca “Fruto do Conde”? O humor sem dúvida é ouro! O interessante é propor uma moda divertida, autoral e inclusiva (necessariamente!), que provoque reações bem-humoradas por parte dos outros! Importante que tenhamos a liberdade de usar aquilo que nos apraz, aquilo que nos torna felizes! Queremos que nossas roupas sejam caracterizadas como ‘arte móvel’. Que as roupas que criamos tornem-se, para as pessoas que as usam, declarações identitárias! Que as nossas clientes se reconheçam na proposta da Fruto do Conde! Sou fã, e hoje felizmente faço parte, do maravilhoso Fashion Movement -Advanced Style - criado pelo brilhante fotógrafo americano Ari Cohen, que traduz bem a diversão e a liberdade, às quais me refiro, e sem as quais perderíamos o sentido de criar! Quanto à fortuita possibilidade de trabalhar com pessoas criativas, como meu marido Gil Haguenauer, premiado cenógrafo e designer de produto, e com a minha amada filha Rebecca Faertes, designer gráfica e artista visual, considero um grande privilégio pessoal, como também, um dos pontos fortes da nossa marca. As referências de nosso país sempre estarão presentes em nosso trabalho!!! Afinal, temos as nossas riquíssimas flora e fauna em nosso imaginário! Êta país rico esse nosso! Mas, creio que o mais importante é mesclar diversas referências.
VAM: E “Fruto do Conde” surgiu como? Como foi a escolha do branding? Porque investiu no segmento moda? Moda para mim sempre foi visceral. Desenho e pinto desde sempre. Fiz cursos de desenho, pintura, e gravura (EAV/Parque Laje, PUC). Desde os dezessete anos desenho moda. Enquanto cursava engenharia, vendia desenhos de roupas para confecções em Copacabana, que então, estavam na moda. A Fruto do Conde surgiu em 2017, quando resolvi reduzir a minha atuação na área de engenharia, e finalizei o curso de design de moda no IED-RJ. Desde então, fundamos a Fruto do Conde, cuja maioria das peças inclui pinturas à mão livre. O nome da marca pretende traduzir mistério e sofisticação. O design da marca foi desenvolvido pela Rebecca.
VAM: Slow fashion é o futuro? O que acredita ser a moda brasileira? Certamente! Desde quando os humanos foram feitos para se extinguirem? A Terra é um ser vivo! Fiz Mestrado na Área Ambiental, e desde então, virei outro ser humano. Urge adotarmos novas formas de convívio com todos os seres vivos, sem maus-tratos aos animais, ao planeta, enfim! Novas formas de produção e de consumo deverão ser adotadas, e, necessariamente passam pelo coletivo e pela redução da desigualdade, buscando um futuro melhor para todos os seres! Creio que as soluções serão coletivas. Não podemos esquecer a inclusão do uso de tecidos inovadores, tecnológicos, que vieram para ficar. Não há dúvida de que a busca atual é pelo equilíbrio entre novos materiais e novos modelos de negócios.
VAM: Mulheres a frente de cargos incomodam pessoas preconceituosas: Como Engenheira Sênior sofreu preconceitos durante os mais de 30 anos de trabalho? E como percebe o preconceito contra mulheres que estão no início de carreira e querem trabalhar com a moda? Sem sombra de dúvida há muito preconceito com relação às mulheres! Basta observar que as grandes companhias brasileiras ainda apresentam índices baixíssimos de mulheres em cargos de poder, de tomadas de decisão. Fui Consultora Senior e gerente de vários homens, e sempre encarei com muita naturalidade a tarefa de gerenciá-los (risos!!!!!!!)! Creio que as mulheres devem ser firmes em seus propósitos, assertivas em suas posições. Mas é preciso construir esta autoconfiança! Para isto, devemos procurar adqurir incansavelmente novos conhecimentos em diversas áreas, criar redes de conhecimento, assim como, desenvolver habilidades sob diversos aspectos, e não necessariamente tentar reproduzir comportamentos masculinos, o modus operandi masculino. Obviamente, tal desenvolvimento pressupõe que se possa ter um padrão de vida digno, que assegure o acesso a uma educação de boa qualidade, a benefícios sociais, e que possibilitem uma competição justa, assim como salários adequados, o que, no Brasil, é muito difícil.
Já observei diversos comportamentos preconceituosos no trato com brasileiras jovens, inclusive em cursos de moda fora do Brasil, dos quais participei (não na Raffle´s, em Milão, onde estou fazendo o meu curso atual). Não podemos permitir isto! Obviamente temos de reagir, de imediato, a toda forma de preconceito: - machismo, misoginia, racismo, homofobia, transfobia, preconceito de idade, e tantas outros...
VAM: Na UFRJ fostes professora e coordenadora do curso: De que forma você acredita que a tecnologia auxilia na nossa construção profissional? Hoje também é aluna de Mestrado em Fashion Design em Milão, quais os obstáculos que enfrenta como aprendiz? A tecnologia é certamente indispensável! Trabalhei com modelos computacionais durante toda a minha carreira de engenharia. Adoro matemática! A minha tese de Doutorado em Engenharia, na Inglaterra, inclui um modelo matemático com mais de 40 variáveis.
Quanto ao curso de Mestrado em Fashion Design na Raffle´s Istituto Moda e Design, em Milão, Itália, estou super feliz por ter ganhado uma bolsa de estudos! O curso é maravilhoso! Eu nunca tive qualquer problema em ser a mais velha da turma, e tenho muita amigas de todas as idades. Sinto-me jovem e me divirto muito! Mas não são todas as pessoas que estão dispostas a abrir mão de posições já conquistadas em suas carreiras para começar outras do ‘zero’, construindo uma nova vida nesta vida! Eu acho ótimo! Tenho feito cursos para aprender a utilizar softwares frequentemente usados na área de moda, como também cursos de italiano. Busco sempre novos aprendizados!
VAM: Impossível não falarmos dos eventos nacionais que produzimos como Veste Rio, São Paulo Fashion Week, Minas Trend, entre tantos regionais. Quais destes eventos você escolhe como os melhores do Brasil? Qual o seu próximo evento? Nos conte mais: Tive uma ótima experiência participando de várias edições do Veste Rio, evento maravilhoso e de ótimo nível. Fui indicada pelo IED-RJ para participar do stand do Sintecidos RJ/Fecomércio, na primeira edição (final de 2016), e desde então, tenho sido ‘incubada’ pelo Sintecidos RJ. Sou muito grata por tal oportunidade, pois além de ótimas vendas e pós-vendas (houve edições em que estiveram presentes quase 70.000 pessoas), participei de desfiles e tive uma ótima mídia, além de construir uma magnífica rede de contatos. Outro excelente evento, realizado regularmente no Rio de Janeiro, é o Coletivo Carandaí 25, organizado por e com curadoria de Tati Accioli. Participei de diversas edições deste evento, sempre maravilhoso! Há pouco, fui selecionada, em conjunto com a ONG Pipa Social, e com outras marcas, para participar do projeto São Paulo Fashion Week Regeneração + Fluxonomia 4D. Foi um projeto longo e que tem rendido muitos frutos dentre eles uma rede de contatos, voltada para a economia criativa; para o uso de processos e práticas ambientalmente amistosos e socialmente justos, que a Fruto do Conde está incorporando. Além disto, rendeu convites para participações em eventos, tais como o Inspira Mais (maior evento da América Latina de têxteis, a maioria ecotecidos), e outros, sobre os quais ainda não posso contar! Aqui no Rio, ainda cito alguns eventos maravilhosos, como o novo ID Festival, do qual participei recentemente, a convite do SENAC e SintecidosRJ; a Feira Hype – na qual expus, a convite, a primeira coleção de roupas de esportes, desenvolvida pela Fruto do Conde; no Ceará, cito o grandioso, e também maravilhoso evento Dragon Fashion (Claudio Silveira). Infelizmente, ainda não tive a oportunidade de participar do Minas Trend. Quem sabe em futuro próximo?
VAM: A seleção das marcas para participar destes eventos dependem de requisitos, além dos investimentos. Quais são eles para você Denise: Creio ser fundamental apresentar um produto original; diferenciado em termos de conceito, design, com materiais e confecção de boa qualidade. Também, que a marca busque utilizar processos e práticas ambientalmente amistosos e socialmente justos. As peças da Fruto do Conde são autorais, divertidas, atemporais, inclusivas e são feitas com carinho!
VAM: Na vida pessoal, como cuida da sua saúde física e mental? Tem uma rotina de cuidado com a sua pele? Sempre fiz exercícios físicos. Durante a pandemia, infelizmente, fiquei algum tempo parada, mas já retomei os meus exercícios regulares. Para preservar a minha saúde mental: - trabalho muito! Adoro o meu trabalho! Fico horas desenhando e pintando. Estudo cabala há mais de 18 anos; adoro ler livros de filosofia, arte, comida vegetariana e vegana; adoro cinema (fiz curso de cinema); música, estar com a minha família; também receber amigues. Adoro dar aulas. Fiz psicanálise por 20 anos, e foi maravilhoso para mim. A minha meta agora é meditar.
Creio ser muito importante cuidarmos de nós mesmos para também estarmos mais preparados para cuidar melhor dos outros (risos!!!)! Preciso cuidar mais da minha pele! Uso produtos recomendados regularmente pela dermatologista.
VAM: Qual o seu sonho fashion? Descreva como é o seu processo criativo: O processo criativo é muito complexo, obviamente. Para criar uma coleção, primeiramente escolhemos um tema. Gostamos de contar histórias. Para isto fazemos uma pesquisa detalhada. As referências sempre são múltiplas! Depois disto, definimos o conceito. Após isto, desenhamos toda a coleção, escolhemos os tecidos, pinturas, estampas, e aí, passamos à fase de produção.
Adoro desenhar figurinos – isto um é sonho fashion que vem se realizando! Tenho desenhado figurinos para a TV: - para a novela Rock Story, da TV Globo (a convite da competente Helena Gastal). Fiz os 10 looks, que compuseram o desfile das personagens da Lu Grimaldi e da Marina Moschen, que eram estilistas; elaborei vários looks de personagens da primeira e segunda temporadas da série de suspense ‘Desalma’, da Globoplay, a convite das competentes Beth Filipeck e Rosângela Sabino; também para shows, tais como o figurino do jazzista Jonathan Ferr, para a sua apresentação no Rock’n Rio, dentre outros. Outro sonho fashion é apresentar o nosso trabalho em galerias de arte no mundo todo. Já tivemos o prazer de participar de exposições no Centro Cultural Correios RJ, a convite da curadora Bette Mattos, com a nossa coleção de esportes - Floresta Olímpica, e de várias edições do evento Design Petrópolis. Ainda tenho vários outros sonhos fashion a realizar...
VAM: Uma viagem inesquecível? Felizmente, tive a oportunidade de morar fora do Brasil e viajar bastante, tanto a trabalho como por conta própria. Morei em Nova York, na Inglaterra e em Milão. Adoro o Oriente. Tive a oportunidade de viajar para a Índia, Nepal, Marrocos, Israel, Singapura. Amo especialmente Milão, Londres, Espanha, Israel e Marrocos.
VAM: De quem você é fã? Sou fã de muitos! Seria uma lista interminável, e creio que poderia parecer arrogância da minha parte! Citando alguns poucos exemplos mais atuais: -Ailton Krenak; Vandana Shiva; Marielle Franco; Angela Davis, Michio Kaku; Stephen Hawking; Zygmunt Bauman, Noam Chomsky; Walter Hugo Mãe; Jorge Amado, Guimarães Rosa; Jorge Luis Borges; Dostoievsky; Camus; Kafka; Shakespeare; Cineastas: - Fellini; Antonioni; Visconti; Rosselini; Pasolini; Marco Ferreri; Wim Wenders; Bergman; Buñel; Agnès Warda; os da nouvelle vague; os do Dogma; Liliana Cavani, Lina Wertmüller; Peter Greenaway; Alejandro Jodorovsky; Fernando Meirelles, Glauber rocha; Cacá Diegues; Joaquim Pedro de Andrade; e muitos mais; Moda: Schiaparelli; Viviane Westwood; Lacroix; Dolce & Gabana; Miu Miu; Prada; Comme des Garçons; Marcelo de Gang; outros; Artes plásticas: Irmãos Mendini; Picasso; Matisse; Bacon; Turner; Tarsila; Rembrandt; Goya; Velasquez; Luiz Áquila; Daniel Senise; Adriana Varejão; Rona; Stephan Doitschinoff; Beatriz Milhazes; Cícero Dias; Cildo Meireles; Ana Durães; Djanira; Dennis Cross. Antonio Poteiro, Aldemir Martins; música: jazz: Chet Baker; John Coltrane; Thelonius Monk; etc. Chorinho; Bossa Nova; Tom Jobim; João Gilberto; Edu Lobo; Egberto Gismonti; Caetano Veloso; Cássia Eller; Elza Soares; Jacqueline Du Pré.
VAM: Para finalizar, luxo é? Ter ética, respeitar a alteridade, todos os seres vivos!
Siga Denise no Instagram: https://www.instagram.com/denisefaertes
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